O Assassinato do Rei Eglon


Sangue, gordura e fezes – as sujeiras que a igreja esconde.

 Milson Felix - Outubo 2012

Imagine o seguinte cenário: uma grande sala desarrumada e malcheirosa, toda suja de sangue, gordura e fezes! Imagine no meio de tudo isso, um senhor gordo com as entranhas à mostra, pálido e com os olhos vitrificados; assassinado covardemente por um líder israelita, com uma faca enfiada na barriga. Acredito que não seja uma cena agradável de ver, não é mesmo?
É por este motivo que os líderes religiosos cristãos procuram deixar esta história longe dos seus sermões, na tentativa de não expor, aos seus incautos seguidores, as sujeiras que a bíblia esconde. 

Muitos não sabem, mas a leitura de alguns textos bíblicos, pelo teor de violência e horror praticado pelo seu deus, ou pelo seu povo, é desestimulada pelos líderes religiosos. Por exemplo, temos o caso das duas ursas que, enviadas por Deus, despedaçaram quarenta e dois garotos que haviam chamado um profeta de careca (embora ele fosse mesmo careca); temos o caso da praga das hemorroidas (que alguns tradutores tentaram disfarçar, trocando a palavra hemorroidas por tumores); e temos o caso do ritual para a purificação da lepra, que consiste em degolar uma pomba, despejar o sangue em uma vasilha, encharcar outra pomba (viva) neste sangue e o espargir sobre o doente. Os padres e pastores fogem destes textos “como o diabo foge da cruz”.
Embora muitos se aventurem a ler a bíblia por completo (apenas para que possam se gabar desta façanha), passam por cima destas passagens com uma rapidez impressionante, chegando até mesmo ao ponto de sequer se lembrarem delas ao final leitura. O caso do assassinato do rei Eglon é uma destas passagens.
Ao contrário das historinhas famosas, como a do velhinho Noé e sua arca, Davi e Golias, Sansão e Dalila e a do ceguinho que foi curado por Jesus, que são contadas “aos quatro ventos”, muitos desconhecem esta terrível história, que se encontra no livro de Juízes, que narra o assassinato de rei Moabita, e dos fatos que a permeiam. Mas aqui vamos expô-la em seus detalhes.
Todos nós sabemos que o povo israelita (conhecido como o povo de Deus) só era diferente dos demais povos na cabeça dos que seguem a bíblia, pois, também guerreava, praticava assassinatos, torturava, estuprava, saqueava e queimava pessoas e animais nas terras conquistadas. Embora muitos desconheçam, os israelitas, quando ficavam sem um líder forte, que os obrigava a adorar ao deus bíblico, também adoravam a outros deuses (inclusive a Baal, a quem o deus bíblico tanto odiava), em outras palavras, era um povo sem personalidade. Entretanto, embora os israelitas praticassem as mesmas coisas que os outros povos praticavam, Deus, não se sabe o porquê, os privilegiava, concedendo-lhes um perdão após o outro pelas suas faltas.
Vamos conhecer o cenário onde se desenrolaram os fatos que culminaram na morte do rei Eglon. Lembrado que, para o bem do argumento, como a ocorrência dos fatos e a existência das personagens são duvidosas, faremos referência a elas como se eles tivessem ocorrido e existido.
Como todos os ateus sabem, e os religiosos recusam-se a aceitar, o deus bíblico não deu a terra de prometida (Canaã) aos israelitas de mão beijadas, muito pelo contrário, eles tiveram que derramar muito sangue (deles e dos habitantes da região) para conquistá-la.
Após passar pela tortura de peregrinar pelo deserto, em terras egípcias, por quarenta anos, vivendo em condições precárias e entrando em conflitos com vários povos da região, o povo de Israel finalmente pode entrar na tão sonhada terra prometida pelo seu deus. Salientando que, por um capricho ridículo do deus judaico, todos os que saíram do Egito, quarenta anos antes, teriam que morrer no deserto, inclusive Moisés, apenas os seus descendentes entrariam na Canaã.
Antes de morrer, Moisés, que liderara os israelitas durante toda a jornada no deserto, passou o comando para Josué. A grande missão de Josué era comandar as investidas contra os povos que habitavam a terra que Deus havia prometido, eliminando a (quase) todos. Nestas batalhas arbitrárias, milhares e milhares de pessoas foram mortas. Não eram nem mesmo poupados idosos, deficientes físicos, mulheres e crianças. Até mesmo os animais, sem motivo algum, eram eliminados.
Veja o que dizem estes versículos, acerca da conquista da primeira cidade Cananéia:
E tudo quanto havia na cidade destruíram totalmente ao fio da espada, desde o homem até à mulher, desde o menino até ao velho, e até ao boi e gado miúdo, e ao jumento.Josué 6.21
Porém a cidade e tudo quanto havia nela queimaram a fogo; tão somente a prata, e o ouro, e os vasos de metal e de ferro, deram para o tesouro da casa do SENHOR. Josué 6.24
Vale lembrar que estas atrocidades eram estimuladas por Deus.
Pois bem, vamos ao fato que nos interessa. Na conquista da dita terra prometida, os israelitas eliminaram quase todos os povos que a habitavam. Porém, como o deus bíblico parece sentir um prazer imenso com sofrimento das pessoas, fez uma manobra para que alguns povos permanecessem ali, para que o seu povinho escolhido pudesse treinar estratégias de batalhas, pois muitos israelitas ainda não tinham experiência em guerrear. Imagine só - treinar guerreiros matando pessoas inocentes. Esta é uma instrução do deus tirano que os cristãos dizem ser bonzinho.
Confira em Juízes 3.2: “fez isso (preservou alguns povos) apenas para treinar na guerra os descendentes dos israelitas, pois não tinham tido experiência anterior de combate”. – Deus bonzinho, não é?
Um dos povos que permaneceram em Canaã foi o moabita. Na época em que o rei Eglon reinou sobre os moabitas, o povo de Israel era governado por juízes, que, como sugere a bíblia, eram homens escolhidos por Deus.
Os israelitas haviam se envolvido com os outros povos e estavam adorando aos seus deuses. Fato que era costumeiro, como mostra Juízes 2.19 - “Porém sucedia que, falecendo o juiz, reincidiam e se corrompiam mais do que seus pais...”.
Isto teria, segundo a bíblia, suscitado a ira de Deus que, em represália, teria fortalecido os moabitas, governados pelo rei Eglon, para os subjugar.
Os moabitas se aliaram a mais dois povos da região, os amonitas e amalequitas, para investirem contra Israel. Saíram vitoriosos e subjugaram o “povo de Deus” por dezoito anos.
Quando se viram dominados, e obrigados a pagar impostos ao rei Eglon, os israelitas teriam novamente solicitado a ajuda do seu deus, que, desta vez, instituiu sobre eles o juiz Eúde.
Quando já estava governando, Eúde, premeditando matar o rei dos moabitas, confeccionou para si uma espada de aproximadamente quarenta e cinco centímetros, afiada dos dois lados. E para que pudesse se aproximar do rei, decidiu levar, ele mesmo, os impostos que os israelitas deveriam pagar.
O rei Eglon era um homem obeso, e se encontrava sentado, acompanhado de seus serviçais em um salão, quando Eúde foi levado à sua presença. Após pagar os impostos, Eúde pediu para ficar a sós com o rei, pois tinha algo a lhe falar em particular. O rei, não sabendo das intenções de Eúde, pediu para que seus serviçais se retirassem.
Aproveitando que estavam a sós no recinto, Eúde pediu para se aproximar do rei. Assim que se aproximou, sacou a espada, que estava por baixo das suas vestes, presa à sua coxa direita, e cravou na barriga do rei, que não tinha muita agilidade para se defender devido à sua obesidade, introduzindo-a completamente, inclusive o cabo. Por ter penetrado profundamente no abdômen do rei, a espada não pode ser retirada.
Algumas traduções omitem, mas outras dizem que, pelo fato de a espada ter perfurado os intestinos, entranhas, gordura e fezes saíram através do ferimento.
A morte causada por ferimentos no abdômen geralmente é lenta, podemos então imaginar que o rei Eglon teria agonizado muito antes de morrer, contorcendo-se pelo chão do salão sujando-o completamente com fezes, gordura e sangue.
Apático ao sofrimento do rei, Eúde saiu do salão e fechou a porta, para que os serviçais demorassem a perceber que o rei havia sido assassinado por ele.
Após a sua saída, os serviçais se dirigiram ao salão, onde estava o rei, e encontraram a porta trancada. Talvez devido ao forte odor que emanava do salão, causado pelas fezes que saiam do ferimento do rei, os serviçais pensaram que ele estava fazendo as suas necessidades fisiológicas e não entraram de imediato. Como diz o verso com a seguinte expressão de um deles: “Ele deve estar fazendo suas necessidades em seu cômodo privativo". Juízes 3.24
Enquanto os serviçais aguardavam o rei abrir a porta, Eúde aproveitou para se evadir do local.
Percebendo que o rei demorava, e cansados de esperar, os serviçais decidiram abrir a porta com outra chave, e se depararam com o seu rei morto.
O cenário que podemos inferir não é nada agradável, chega a ser aterrorizante – um salão mal cheiroso, com fezes, gordura e sangue espalhados por todos os lados e, no meio de tudo isso, um homem obeso com as entranhas à mostra, pálido e com os olhos vitrificados estendido no chão.
Mas ao tomar conhecimento desta história, os cristãos podem retrucar, dizendo que seu deus estava apenas fazendo justiça, livrando os israelitas do domínio do rei. Mas, se analisarmos bem o texto de Juízes 3.12, perceberemos que o rei Eglon não teria subjugado Israel de livre arbítrio, mas por um propósito do deus bíblico.
Confira!
Mais uma vez os israelitas fizeram o que o Senhor reprova, e por isso o Senhor deu a Eglom, rei de Moabe, poder sobre Israel.”.
Por isso, podemos concluir também que quem estava sendo injustiçado nesta história toda era o povo moabita, pois já estava instalado naquele local havia anos (talvez séculos), enquanto os israelitas não passavam de intrusos, querendo dominar toda a região.
As circunstâncias como o rei Eglon foi covardemente assassinado, sem nenhuma chance de defesa, mostram que o líder israelita, Eúde, aclamado como herói pelo seu povo, não passava de um covarde. Mostram também que o deus bíblico não passa de um sádico, que brinca com o sofrimento e os sentimentos das pessoas, enquanto joga umas contra as outras.
O que me impeliu a escrever este texto, amigo leitor, foi a vontade de mostrar o quanto as religiões cristãs usam a bíblia para manipular as pessoas, com o objetivo de tirar proveito delas. Tentam fazê-las acreditar que se trata de um manual inspirado por um deus bondoso para guiá-las e, para isso, incentivam-nas a ler apenas algumas partes dela, aquelas que servem aos seus propósitos, enquanto omitem a maior parte, composta de textos comprometedores, que se contradizem ou que levantam dúvidas.
Citar as passagens bíblicas que os líderes religiosos tentam esconder, principalmente durante um diálogo acalorado, é uma boa maneira de “desmontar” um cristão, pois mostra o quanto ele é manipulado pela sua religião através da manipulação da bíblia.
Portanto, quando um cristão lhe disser que você não conhece a bíblia, e por isso não pode questioná-la, faça um teste, pergunte se ele a conhece, e peça para ele narrar com detalhes, por exemplo, a história do assassinato do rei Eglon.

Milson Felix - Outubo 2012 - www.encontroracional.blogspot.com.br